Há oito anos o Sistema Único de Saúde (SUS) não realiza uma cirurgia de prótese para articulação da mão, fundamental para melhorar a qualidade de vida de pacientes com artrite reumatóide. O gargalo, nesse caso, é sentindo principalmente pelas mulheres, que são as mais afetadas pela doença.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão, o dado representa uma realidade nacional, provocada por fatores múltiplos. Além da falta de profissionais gabaritados, há um disparate entre o preço estipulado pelo Ministério da Saúde para o pagamento das próteses e o real custo delas.

"No caso da artrite reumatóide, não conseguimos comprar a prótese. Não fazemos esse tipo de cirurgia porque o governo paga 300 reais pelo material. Nem o fornecedor nacional mais barato consegue oferecer esse preço", pontua Sergio Yoshimasa Okane, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM) e médico do Hospital das Clínicas de São Paulo.

À incompatibilidade entre a tabela estipulada pelo governo e custo dos materiais, soma-se a carência de centros de atendimento. A inexistência de próteses para o tratamento da artrite reumatóide reflete um problema muito mais profundo de saúde pública no País.

A grande maioria dos casos de acidentes de trânsito, trabalho e doenças congênitas compromete às mãos. Segundo Flavio Fallopa, professor titular da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), mais de 30% dos acidentes de trabalho exige procedimentos cirúrgicos, enquanto 49% são ortopédicos.

No Brasil, o número de profissionais é muito aquém do estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A baixa remuneração e valorização do profissional justificam a lacuna. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão apontam que o País possui apenas 495 especialistas na área.

A matemática é simples. O tempo de estudo e formação é longo. Para estar habilitado, o médico precisa ter feito seis anos de medicina, três de ortopedia e dois anos de especialização em cirurgia da mão. "São 11 anos de estudo. A remuneração atual não compensa, não há qualidade e reconhecimento para a realização do trabalho", assevera Rames Matta Junior, diretor do Centro de Referência em Cirurgia da Mão do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O ideal, segundo preconiza a OMS, é que tenha uma equipe capacitada nesse tipo de cirurgia e microcirurgias reconstrutivas para cada dois milhões de habitantes. "Só em São Paulo temos mais de 11 milhões e apenas um centro específico, ligado ao HC e inaugurado há um mês, que funciona 24 horas para atender a demanda", calcula Matta.

A espiral do problema

A logística de atendimento público sobrecarrega os hospitais universitários nas grandes capitais, os poucos a capacitarem médicos para tais procedimentos. "Hoje, se uma pessoa tem a mão amputada e precisa reimplantá-la, só conseguirá ser atendida por um profissional especializado no Hospital das Clínicas. E ainda assim as chances são ínfimas, pois a fila de espera é grande."

A demanda reprimida retroalimenta as filas. Luiz Koiti Kimura, cirurgião da mão do Hospital das Clínicas de São Paulo e professor da Universidade de São Paulo (USP), explica que o atendimento emergencial sem capacitação eleva o número de pacientes aguardando atendimento nos centros especializados. "Muitas lesões são agravadas devido ao tempo de espera e a burocracia na aprovação dos procedimentos."

Para elucidar o problema, o especialista exemplifica: "No caso de uma lesão que comprometa os nervos dos ombros, comum em acidentes com motociclistas, o HC realiza 48 cirurgias por ano. Hoje, há 78 pacientes na fila. O tempo médio que um paciente com essa lesão pode esperar é de no máximo nove meses, mas ele fica quase 20 meses aguardando para ser tratado."

Fonte: IG



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